Família: Fator de Risco ou Proteção?
A cidade de Água Branca, no estado do Piauí desenvolveu o Projeto “Viver bem é viver sem drogas”, em virtude de inúmeras demandas de famílias em sofrimento decorrentes desses fatores. O Núcleo de Apoio à Saúde da Família de Água Branca recebe frequentemente famílias encaminhadas pelas Estratégias Saúde da Família em intenso sofrimento devido ao uso de drogas por um ou mais membros da família.
O Projeto visa atuar de forma preventiva, reforçando a qualidade de vida, e o fortalecimento dos vínculos familiares e sociais.
O período da adolescência é entendido como a etapa de desenvolvimento biopsicossocial onde as condições emocionais e sociais se apresentam por meio da transitoriedade. Os laços significativos com o outro se deslocam do entorno familiar para o campo social, numa busca por novos vínculos. Em termos de sentimentos, o adolescente pode considerar que não é compreendido por seus pais, professores, e demais pessoas que fazem parte de suas vidas, sendo típica a ocorrência de conflitos e problemas de relacionamento, o que também é importante para o processo de desenvolvimento, pois contribui para a conquista da autonomia e da independência.
A família tem se destacado na literatura, tanto pela importância em oferecer condições para um desenvolvimento saudável na adolescência quanto pela necessidade de participar de intervenções visando à superação das dificuldades manifestas. Ela pode ser tanto um fator de proteção quanto um fator de risco.
O contexto atual permite concluir que vivemos em uma sociedade carente de mãe e pai, na qual faltam limites e critérios norteadores das ansiedades cotidianas, que se exacerbam. As relações afetivas primárias estão tão deturpadas pela ausência ou má qualidade dos vínculos primários que terminam por comprometer a autoestima da criança e do adolescente, assim como o desenvolvimento das potencialidades afetivas, cognitivas, criativas e reparadoras.
Quando os vínculos primários são fortes, as chances de o adolescente exibir comportamento antissocial são menores do que quando os vínculos com os pais não existem ou são fracos.
É importante que se estabeleça, desde a infância, o vínculo afetivo entre pais e filhos que é indispensável para um desenvolvimento psicossocial seguro.
Importante ressaltar como fatores parentais de risco: envolvimento materno insuficiente; práticas disciplinares inconsistentes ou coercitivas; excessiva permissividade, dificuldades de estabelecer limites aos comportamentos infantis e juvenis e tendência à superproteção; educação autoritária associada a pouco zelo e pouca afetividade nas relações; monitoramento parental deficiente; conflitos familiares sem desfecho de negociação; expectativas incertas com relação à idade apropriada do comportamento infanto-juvenil.
Cabe ressaltar que a família é uma das fontes primárias de socialização, juntamente com a escola e o grupo de amigos, que cumprem um papel importante na criação de condições para os fatores de proteção e risco às situações de uso problemático de drogas.
Para o cumprimento dos objetivos aplicou-se como recurso metodológico a intervenção, que se realizou por meio de atividades educativas, de caráter predominantemente de sensibilização e conscientização, como entrevistas individuais, oficinas, dinâmicas, grupos de discussões, palestras com os adolescentes e pais, e blitz educativa.
Foram realizados oito encontros semanais com duração de duas horas cada. A proposta é, sobretudo, orientar e sensibilizar o jovem sobre os malefícios e consequências danosas do uso das drogas na vida do usuário, familiares e comunidade, trazendo a realidade sobre o universo das drogas, tipos de drogas, seus efeitos no cérebro e organismo, e recuperação.
Durante as oficinas, os adolescentes eram convidados a debaterem e expressarem suas opiniões. Para o cumprimento das atividades foram utilizados slides, textos, vídeos e relatos de casos, por meio de depoimentos de ex-dependentes químicos.
Este projeto mostrou que as intervenções, para serem efetivas em relação ao jovem e sua relação com o uso de substâncias, necessita de um novo modo de perceber e interpretar os eventos e situações que cercam o indivíduo, o que é bastante desafiador. Já em relação aos pais que participaram das oficinas, observou-se que a maioria tem uma dificuldade grande em compreender a adolescência e suas peculiaridades, fato este que pode contribuir para um distanciamento afetivo entre pais e filhos, gerando insegurança e descontentamento em ambas as partes.
Saiba mais sobre este estudo em:
https://ares.unasus.gov.br/acervo/html/ARES/14635/1/05-ZENAIDE1.pdf