Fake News e o Aconselhamento Breve
O Brasil e o mundo vivem uma epidemia de notícias falsas, ou Fake News, sobre vários assuntos, mas em especial, sobre as drogas. E esse número de Fake News vem aumentando, ano a ano.
E porque isso é tão importante no caso das drogas? Porque a informação do jovem vem por aí: pela internet, pelas redes sociais, pelo ‘boca a boca’... Quando o assunto é cigarro, se vê pouca fake News, pois já é um assunto bem trabalhado no Brasil, mas quando se pensa em maconha, álcool e hoje o cigarro eletrônico, podemos observar que há muita fake News se disseminando como se fosse verdade.
Para falar sobre esse assunto e também para compartilhar com os congressistas do 7º Congresso Internacional Freemind 2022 o Programa de Aconselhamento Breve sobre Álcool e Outras Drogas a Mobilização Freemind e a ISSUP Brasil convidaram o Dr. João Paulo Becker Lotufo, parceiro desde os nossos primeiros passos.
Dr. Lotufo é Mestre e Doutor em Pediatria pela Universidade de São Paulo, representante da Sociedade de Pediatria nas ações de combate ao álcool, tabaco e drogas, coordenador/presidente do grupo de trabalho no Combate ao Uso de Drogas por Crianças e Adolescentes na Sociedade de Pediatria de São Paulo, responsável pelo Projeto Antitabágico do Hospital Universitário da USP e responsável pelo projeto Dr. Bartô e os Doutores da Saúde – Projeto de Prevenção de Drogas no Ensino Fundamental e Médio.
Confira um pouco do que Dr. Lotufo nos falou e assista na íntegra sua palestra em português em https://bit.ly/3LSxs89 ou em inglês em https://bit.ly/3xZxENo. Você também pode fazer o download da apresentação em https://bit.ly/3RjZqei.
Fake News – o que é isso?
Fake news: notícia intencional e falsa que pode induzir o leitor ao erro. O termo do ano segundo o dicionário Oxford, se popularizou nas eleições presidenciais norte-americanas.
Disponível em https://doi.org/10.1590/S0104-12902020190342
Algumas Fake News divulgadas:
“Beber um pouquinho e dirigir não tem importância”; “Moro ali pertinho” – FAKE NEWS
Como se pode ver pela tabela acima, apenas um copo de cerveja ou vinho já é suficiente para causar prejuízo na percepção de distância e velocidade.
Outra coisa que é bastante preocupante é a idade de iniciação do uso de álcool: alunos do 5º ano fundamental já fazem uso de álcool – uma droga proibida para menores de idade – e o mesmo acontece com o tabaco, maconha e crack, segundo Dr. Lotufo em sua publicação Álcool, Tabaco e Maconha – Drogas Pediátricas - 2ª edição.
Quanto mais cedo se inicia o uso de substâncias, maior o risco de dependência.
“Na gravidez posso beber só um pouquinho” – FAKE NEWS
Qualquer bebida alcoólica consumida pela mãe atravessa a barreira placentária e chega ao bebê, que fica exposto à mesma concentração de álcool consumida pela mãe.
Os riscos que o uso de álcool durante a gestação é de abortamento, parto prematuro, recém-nascidos com baixo peso, anomalias físicas, diminuição do crescimento fetal e do cérebro e Síndrome Alcoólica Fetal – esta uma doença neurológica extremamente violenta com deformidade do cérebro e do organismo todo.
“Maconha todo mundo usa” – FAKE NEWS
Isto é mentira! Apenas 7% da população brasileira utiliza maconha rotineiramente.
“Amsterdam é a cidade onde as drogas são liberadas” – FAKE NEWS
Na década de 70 e 80, quando em Amsterdam existia o turismo da maconha poderia ser. Mas hoje, existem muitas regras que fazem a informação acima ser uma Fake News: não é em todos os lugares que se pode fumar, existem ‘zonas livres de álcool’, você pode ter 4 pés de maconha no seu terraço, mas não pode andar com a droga.
Nos famosos Coffeeshops da Holanda, lugares onde você pode experimentar a droga, não são servidas bebidas alcoólicas. Além disso, uma análise do The Economist mostra que o número de coffeeshops já vem diminuindo há muitos anos, devido ao aumento da intolerância da Holanda em relação à maconha: em 1995 eram 350 e em 2017 eram apenas 167.
Lá também a polícia fica à paisana e as regras são cumpridas, com multas pesadas para quem descumpre as legislações.
“Maconha não tem risco” – FAKE NEWS
Nos estados americanos onde a maconha foi legalizada e o uso aumentou, dobrou-se o número de mortes em acidentes automobilísticos. Outro fato preocupante nestes estados foi o aumento de intoxicação exógena por uso de maconha, principalmente em crianças de zero a cinco anos devido ao uso de maconha em alimentos, amplamente divulgados por estratégias de marketing: bolo de maconha, Coca Cola com maconha, pirulito com maconha...
Para uma criança de 0 a 5 anos de idade, isto é risco de vida!
Um termo absurdo que vem se difundindo: Maconha medicinal. Não existe maconha medicinal! O que existe são canabinoides ou canabidiois medicinais – substâncias da planta que já são conhecidas no mundo médico e que tem finalidade terapêutica.
Por exemplo: a morfina, medicamento utilizado há bastante tempo em casos de infartos, cálculos renais e outras necessidades médicas é extraída da planta Papoula, planta da qual é extraída a heroína. No entanto, nunca se ouviu falar de Papoula medicinal! É a morfina que é medicinal e não a heroína ou a papoula... e é o mesmo com a maconha.
Além disso, o impacto do álcool e da maconha no adolescente pode causar: defasagem escolar (45,9%), faltas e abandono escolar, internação, envolvimento em situações de violência, quedas e afogamentos, dependência de outras drogas e outras doenças, problemas familiares, gravidez não planejada, AIDS e outras DSTs, entre outros problemas.
“Drogas lícitas não levam a drogas ilícitas” - Isso é mentira!
Entre as pessoas que bebem muito, 37% partem para outras drogas, enquanto que entre aqueles que não bebem apenas 2% partem para outras drogas.
O que podemos concluir disso? Onde está a prevenção da Droga ilícita? Está na Prevenção da Droga Lícita!
Daqueles que fumam muito, 33% partem para outras drogas enquanto que entre os que não fumam, esse índice era zero, mas hoje a maconha já ocupa o lugar do tabaco como primeira droga.
Narguilé não faz mal, não é tabaco e tem filtro! - FAKE NEWS
O fumo do narguilé é composto de tabaco e tem substâncias nocivas, como a nicotina. Um fumante de Narguilé, em uma hora de uso, pode chegar a engolir até 50 litros de fumaça, ou seja, a mesma quantidade que é inalada em 100 cigarros.
“O Cigarro Eletrônico foi criado para diminuir o risco do tabaco de quem não consegue parar de fumar” – FAKE NEWS
No momento em que o número de cigarros fumados no mundo está diminuindo, que os ambientes livres de tabaco estão se espalhando, a indústria do tabaco se organiza para tentar repor o que está perdendo e introduz no mercado o cigarro eletrônico, alegando que, para o idoso fumante, seria melhor fumar o cigarro eletrônico do que o cigarro convencional.
Esta é a mais pura mentira! A propaganda do cigarro eletrônico é feita pensando nos jovens e não nos idosos. Além disso, um cigarro eletrônico tem até 15 vezes a quantidade de nicotina de um cigarro normal.
O que vicia no cigarro normal é a nicotina! Então, o marketing deste tipo de dispositivo é feito para idosos que não conseguem parar de fumar ou para o jovem que está se iniciando no tabaco e que ficará dependente de nicotina em pouco tempo e que logo estará usando cigarro normal ou mesmo maconha?
Sem contar o fato de ser cancerígeno e ter causado pneumonias nos Estados Unidos: milhares de jovens dependentes, 68 mortes até dezembro de 2019 e dois transplantes em adolescentes por lesão pulmonar grave. Após essa data não se falou muito sobre o cigarro eletrônico, porque a pandemia de COVID tomou conta da mídia, mas as lesões pulmonares já estão aparecendo no Brasil.
A empresa que lançou o Juul (dispositivo eletrônico de fumar) em 2015 é bilionária (avaliada em 16 bilhões de dólares, segundo publicado no New York Times em setembro de 2018), controla o mercado com 72% das vendas de cigarros eletrônicos.
Segundo o FDA, mais de 2 milhões de estudantes de ensino fundamental e médio usam regularmente os dispositivos.
Com isso, devemos considerar: morrem no Brasil, por ano, 150 mil pessoas por causa do cigarro e 100 mil por causa do álcool. Se somarmos a esses números a quantidade de pessoas que utilizam a maconha, a droga sintética e outras drogas, ultrapassamos o número de mortes por COVID durante um ano.
No caso do COVID, medidas de proteção foram rapidamente impostas: máscaras, isolamento, vacina... mas, e para as drogas? O que estamos fazendo? Apenas coisas pontuais, pouco eficazes.
Os jovens dizem “Eu uso porque quero e a hora em que eu quiser parar, eu paro!”. Alguns pais dizem “Gostaria que meu filho não usasse drogas, mas estou feliz por ser apenas maconha” ou “Estou feliz porque é apenas cigarro eletrônico”...
Os próprios pais desconhecem o risco das drogas!
Aconselhamento Breve
Ir a uma escola, fazer uma super palestra falando das drogas e nunca mais se falar do assunto NÃO FUNCIONA!
Por isso, o Dr. Lotufo aconselha o uso do Aconselhamento Breve, um programa contínuo nas escolas, nas igrejas ou nas famílias. São programas que tem dado resultado efetivo na redução do tabagismo e do consumo de álcool.
Dr. Lotufo citou que está comprovado que os aconselhamentos breves funcionam: informações curtas, mas contínuas. Durante um ano ele e sua equipe desenvolveram 9 atividades em dez escolas públicas no entorno da Universidade de São Paulo e conseguiram reduzir a experimentação de drogas em 60%.
Os livretos do Dr. Bartô foram distribuídos nas escolas uma vez por mês para relembrar a mensagem que eles tinham passado anteriormente. As crianças identificam o personagem como alguém legal, amigo, companheiro e assim é mais fácil chegar nas crianças.
E as crianças levam para casa e alteram a rotina das residências. Como exemplo, Dr. Lotufo cita um senhor de 75 anos que foi ao seu consultório do Projeto Antitabágico do HU-USP querendo parar de fumar devido ao fato de que todas as vezes que ele acendia um cigarro, seu neto o fazia ler um dos livretos do Dr. Bartô, recebido durante o Aconselhamento Breve na sua escola.
Pode-se ver com isso que ações como essa atingem as crianças, trabalhando a prevenção, e alcançam as famílias também.
O Aconselhamento Breve pode ser usado no dia a dia do médico e dos agentes de saúde, nas famílias, nas igrejas, nas escolas e até mesmo na política, já que são os políticos que votam as leis.