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Famílias
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Drogas Lícitas
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Drogas e Sociedade
Gleuda Apolinário
Maria de Fátima Padin

Famílias, como prevenir? O diálogo começa em casa.

Famílias, como prevenir? O diálogo começa em casa. Conversando com Maria de Fátima Padin

 

Em seu canal do YouTube, Drogas e Sociedade, Gleuda Apolinário recebe a Dra. Maria de Fátima Padin para uma conversa sobre como prevenir o uso de drogas nas famílias através do diálogo.

Durante 37 minutos, Dra. Maria de Fátima falou de sua experiência e deixou muitas dicas importantes de como os pais devem agir diante das situações que podem se apresentar devido ao uso de drogas.

 

Acompanhe abaixo um resumo do que a doutora falou sobre família, prevenção e diálogo:

“Existem hoje em termos de políticas públicas sobre drogas no Brasil uma falta de olhar para as famílias e para como elas lidam com essa epidemia de drogas em relação ao consumo precoce de jovens.

É claro que precisamos ter um olhar voltado para os dependentes químicos, mas quem pode nos ajudar e quem precisa de ajuda são as famílias.

As famílias, sejam de qualquer classe econômica, estão precisando de suporte. Hoje a mídia tomou conta e virou “pai e mãe” de nossos filhos. Tem uma brincadeira que diz: “Aos 6 meses meu filho reconheceu minha voz. Aos 16 anos ele não a escuta mais”. Hoje os pais estão sem voz.

E uma das coisas mais importantes a pontuar é o quanto esses pais precisam de ajuda nessa interface da comunicação com os filhos. Eu sempre uso muitos dados da comunicação assertiva: eu acho que precisamos olhar para a propaganda e para o marketing e aprender uma lição com eles.

Além dos filhos não nascerem com bula, nós, pais, ainda temos uma série de problemas que são: a internet, a cidade, a pandemia, o assédio, a questão da cerveja, o glamour da maconha e, com isso, a família fica pequenininha.

Na hora em que começamos a aprender um pouco com a indústria do marketing é quando começamos a mudar o jeito de nos comunicar.

Comunicação Assertiva

Hoje uma pilastra importante é esta comunicação mais assertiva. Por exemplo: nós falamos o que não queremos que aconteça ou fazemos perguntas mais abertas: “Não chega tarde, hein?”, ao invés de falar “Chegue cedo!”  ou “Você pode me avisar se for atrasar?”

Se formos olhar para a propaganda, veremos que ela diz: “BEBA com moderação!” Ela está mandado a gente fazer o quê? Não vemos as propagandas dizendo o contrário: “Não beba se dirigir”.

Nós pais precisamos fazer um treino. Não se usa a palavra não. Precisamos começar a estimular uma linguagem positiva. Precisamos investir numa comunicação onde nós digamos aos nossos filhos o que nós queremos que aconteça. Este é o primeiro ponto.

Outra questão muito importante é que nós pais, precisamos aprender a não fazer discursos para os nossos filhos. Comparem com o horário político quando começa: a primeira coisa que fazemos é desligar a TV ou o rádio, porque ninguém gosta de discurso. Quando isso acontece, a pessoa vai escutar os primeiros minutos e depois não vai escutar mais.

Precisamos também ouvir o que nossos filhos estão falando para podermos fazer uma autoanálise. É importante sermos breves no que queremos falar.

Vejam as propagandas: elas são sempre curtas. Por exemplo: porque será que os seriados de Netflix fazem tanto sucesso? Na primeira temporada, os capítulos são curtos.

Se nós, pais ou famílias, não conseguirmos nos adaptar e fazer esta leitura: porque as pessoas gostam das temporadas? (porque elas são curtas), as propagandas (são curtas) e a mensagem tem que ser clara e objetiva.

Não aponte o dedo. Estenda a mão!

E mais uma coisa que acho fundamental é tirarmos o “você”. O “você” tem um tom acusatório: Você faz com que eu fique assim… ninguém faz nada com a gente: é a gente mesmo quem faz.  O certo é: Eu não fico bem quando você não me avisa. Eu fico muito mal quando você usa droga.

Desta forma, estamos trazendo para nós o sentimento. Você me faz sentir assim. O que vai acontecer do outro lado? Ele vai se defender, vai virar uma briga, uma batalha.

Essas são medidas importantes em termo de comunicação. Brevidade, ser absolutamente positivo, usar o poder do “EU” (Eu gostaria que você ligasse para mim. Eu não fico bem assim).

Içami Tiba já dizia: tem duas formas de aprender: uma é o exemplo e a outra é o exemplo! Então, quando eu começo a e expressar e falar do meu sentimento e não acusar, eu terei, certamente, esse retorno (mesmo que não imediatamente).

E uma outra questão nessa comunicação: nós temos que ser mais específicos na comunicação. Por exemplo, se o tema da conversa é o fato de nosso filho ter chegado tarde devemos ser claros e objetivos e dizer: “Olha, EU fiquei preocupada porque você marcou comigo e não chegou. EU quero que você me avise se acontecer alguma coisa. Aconteceu alguma coisa?”

Nesse momento nós estamos sendo breves, específicos, falando de nós mesmos e também dando oportunidade para a pessoa se explicar.

Os pais precisam ter um suporte em termos de comunicação. Escuto muito:  “Dra. Fátima, eu prefiro que ele beba aqui do que beba na rua”. Quando vem esse discurso, a gente já sabe que a família está refém. Porque uma das coisas mais fortes dos jovens são as tribos, são quando eles se unem? Porque os pais não se unem? Vou na casa do fulano…. “OK. Passe o telefone de lá”…. Você não vai ligar, né? “Vou, sim! Eu não estou ligando para o seu amigo, eu estou ligando para os pais…” Os pais tem que fazer uma rede de conexão, mas os pais tem pré-conceito. Eles têm o conceito de que “se eu falar, vou estar mostrando insegurança, ou vou invadir o espaço, eu controlo meu filho”.

Nós temos que mudar esse conceito. Os pais têm que se unir para isso.

União dos pais e da Sociedade para conseguir mudanças

Uma das coisas que a gente mais vê é que o que dá certo é essa união da sociedade. Não é o político que vai mudar a realidade para nós. Se formos ver, todas as leis que mudaram o mundo vieram de uma mobilização social, não veio do meio político.

Quando a gente pega “Mothers against drunk driving”, uma mãezinha sozinha que perdeu a filha atropelada por um motorista bêbado conseguiu mudar as leis dos Estados Unidos. Ela fez uma mobilização social.

Hoje, se você fumar um beck lá  nos Estados Unidos, tudo bem (apesar que já estão se mobilizando contra isso também). Mas se você for pego dirigindo nos Estados Unidos bêbado, você vai preso, perde a carteira. A lei é num nível fantástico, porque teve UMA mãezinha chamada Candice que lutou, que fez uma mobilização social e ela mudou a lei de todos os estados dos Estados Unidos.

Nós temos que fazer isso na hora em que o “não esquenta” entra na minha casa. Saiba que pelo Estatuto da Criança e do Adolescente a família precisa saber a corresponsabilidade social que ela tem. E é uma crença distorcida achar que se fumar em casa ele está protegido.

Nós temos que lembrar que não importa a relação emocional: pais e filhos, marido e mulher ou a relação que for –  precisamos tomar cuidado para não ficarmos reféns da doença que começa a aparecer.

É melhor beber ou fumar em casa?

É melhor beber, é melhor fumar em casa. Porque é MELHOR? Ao contrário: “Aqui, na sua casa, está absolutamente proibida a bebida!” Isto tem que estar claro! A família, por falta de orientação acaba incentivando e ficando refém da doença.

As famílias estão também cada vez mais permissivas: Todo mundo usa… todo mundo bebe… E também, outra coisa: a cerveja, por exemplo, é considerada um refrigerante de malte. OI????? “O que é que tem uma cervejinha?”

Outra coisa grave que está acontecendo é a alienação parental. É muito grave o quanto os filhos, hoje, estão sendo massa de manobra para tudo, para dizer que a sua mãe não deixa, ele acaba deixando… seu pai é um horror porque deixa…

Mais de 30% dos jovens de hoje fumam menos que os jovens de minha época, isto devido à legislação altamente restritiva.

Nós somos vítimas de um marketing. E se nós não aproveitarmos e fizermos uma leitura adequada disso, seremos pais permissivos, pais sem mobilização social e pais sem empatia pelo outro.

Uma dica importante é que nós temos que engajar nossos filhos em projetos sociais. Hoje temos uma gama de projetos sociais, não para ele ir lá e se achar diferente, mais do que o outro. Mas para ele achar a empatia, a autoeficácia. A autoeficácia é o grande problema do jovem: ele se acha um nada… e aí ele tem que fazer alguma coisa para se achar: fumar, beber. Então, ele não está precisando de uma autoeficácia? Vamos fazer com que ele desenvolva projetos sociais.

É interessante ver a maturidade emocional de jovens que são engajados em projetos sociais. Duvido que esses jovens usem drogas!

Falar sobre prevenção: não adianta cartilha, não adianta falar… a gente precisa entender hoje, de fato, que o grande calcanhar de Aquiles que temos é essa falta de habilidade emocional que todos nós temos. A gente acaba vendo uma série de youtubers aí, meninas, cortadas… uma onda de suicídio…Como assim? Ela era maravilhosa, ela era tudo o que eu queria ser. Como ela se matou?

Só para terminar, fica aqui uma dica para as mães, pais ou jovens: a gente deve se desprover de qualquer sentimento de austeridade e deve falar como nos sentimos… falem com seus filhos! Não apontem os dedos… estendam as mãos. Seus filhos precisam olhar vocês de uma forma diferente para eles poderem se olhar.

Gostou do assunto? Assista a conversa na íntegra:

https://www.youtube.com/watch?v=RmbwV97hgd0&feature=youtu.be